Como nasce, onde vive e do que se alimenta a amizade? Não,
você não vai descobrir isso nessa sexta, no Globo Repórter. Talvez você (nem
eu) descubra nunca respostas realmente verdadeiras para questões tão complexas.
Mas o fato de algo ser difícil, quase impossível de ser definido, não é e nunca
foi empecilho para eu refletir sobre.
Vou ser polêmica, mas vamos lá: quem nunca se envolveu em
uma confusão com uma amiga e colaborou para que o circo pegasse fogo que atire
a primeira pedra. Infelizmente é natural do ser hurmano gostar de ver o circo
pegar fogo. Acha que está impune? Então diz ai: você nunca encontrou o ex da
sua amiga na balada e não correu para contar? Sempre me pergunto qual é a
maneira correta de agir. Contar que o cara que ela ainda morre por é filho da
puta e dar todos os detalhes de como ele estava dançando grudada na loira
periguete, sim ou não? À primeira vista, a resposta é: se sou amiga, tenho que
contar sim. Será?
Cinco meses atrás eu responderia sem dúvida nenhuma que sim.
Hoje, não sei. Será que alguém que está sofrendo porque perdeu alguém que amava
merece sofrer mais ainda com esses detalhes? Não acho. E acho que parte do
processo de ser amigo de verdade é saber dosar esses choques de realidade.
Exemplifico o que quero dizer: há alguns meses, uma conhecida minha se separou
do namorado de 9 anos. Ele terminou sem dar grandes explicações, apenas que
queria terminar porque estava confuso. O tempo passou. Essa minha conhecida
chorou, sofreu, mas começou a se recuperar. Foi viajar no carnaval, conheceu um
cara legal, começou a sair com ele. A menina estava feliz.
Eis que, quando uns 5
meses se passaram desde a separação, uma amiga dessa minha conhecida descobriu
pelo Facebook que o ex da menina namorava outra garota há dois anos (ou seja,
ele tinha duas namoradas ao mesmo tempo). O que a garota fez? Pegou o Facebook
da outra namorada do cara e foi mostrar para a menina. Resultado: cinco meses
de esforço para esquecer o ex jogados no lixo. A menina teve uma recaída,
voltou a chorar diariamente e acabou terminando com o cara que estava saindo.
Eu pergunto: a amiga que foi fuçar a vida do ex e mostrar
que o cara tinha outra foi amiga mesmo? Eu lá tenho minhas dúvidas. Se alguma
amiga minha é enganada, minha reação sempre é tentar alertar de alguma maneira.
Só que acho que há casos em que as pessoas dão esses alertas mais por quererem
ver o circo pegar fogo que por amizade mesmo. A menina já estava bem, superando
o fim do relacionamento e teve uma recaída desnecessária por conta da “amizade”
da outra. Será que uma pessoa que já tinha sofrido tanto para superar o
relacionamento acabado merecia passar por isso novamente?
Sinceramente, eu não teria nunca agido como a garota. E acho
que quem fica alimentando intrigas se dizendo “amiga” é um grande de um FDP.
Por quê? Porque eu acho que um amigo é, antes de tudo, alguém que quer seu bem.
Que quer te ver feliz. Não que eu ache que amigo tem que esconder as
dificuldades da vida. Só acho que algumas verdades muitas vezes não precisam
ser ditas. Se você está tentando esquecer alguém e aquela amiga não para de
falar da pessoa, é muito provável que ela esteja pensando em tudo, menos na sua
felicidade.
Ser amigo, para mim, é ter bom senso. E acho que, algumas
vezes, na ânsia de sermos verdadeiros, esquecemos deste detalhe fundamental nas
relações humanas.