segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

37 SEMANAS

Quando a semana 37 chega, toda mamãe respira aliviada. Esse é o marco que separa os bebês entre pré-maturos ou não. Se a gestação chega nesse ponto, sabemos que as chances de ter complicações no parto devido à prematuridade se reduzem consideravelmente. Pra quem teve a gravidez classificada como de "alto risco" desde à 28ª semana e teve que tomar remédio pra evitar parto pré maturo, isso significa tirar pelo menos uns 100 quilos dos ombros - no caso, dos meus.

Olho a barriga mexer pra lá e pra cá, sem que eu tenha qualquer controle, e só consigo sorrir. Sei que essa história de ser mãe ainda nem começou na minha vida, mas me sinto feliz e satisfeita de tudo ter dado certo até agora. Já sei que nunca mais minha vida será a mesma, mas rezo e torço pra que tudo sempre acabe bem. Sei que terei noites de insônia, terei dores de cabeça, mil preocupações para o resto da vida. Que vou amar muito a Luísa, que um dia ela vai sair de casa, que podemos brigar muito, que serei a mãe "chata" na adolescência e depois, a velhinha ranzinza quando ela estiver adulta. E que tudo isso faz parte do ciclo da vida. Rezo pra morrer velhinha e que, quando isso acontecer, que a Luísa esteja bem, adulta, saudável, com juízo, caráter e tendo alguém pra ela amar.

Sei que apesar da minha ansiedade - mais duas semaninhas! - fazer com que esse tempinho final pareça uma eternidade, tudo vai passar muito rápido. Hoje ela se estica dentro de mim, fazendo da minha bexiga um pula-pula. Vou piscar o olho e a mocinha estará se formando na faculdade. Portanto, quero MUITO conseguir curtir ao máximo tudo, cada momento, cada instante da vida da Luísa. E tentar ter o equilíbrio pra educar sem mimar ao extremo ou ser "ausente". Peço sempre que eu saiba equilibrar os "nãos" e os "sims" para que a Luísa se torne uma pessoa que entenda a importância de ter limites, de respeitar o próximo. Porque acho que as lições mais importantes da vida de toda pessoa é saber respeitar o outro e entender que nada cai do céu - é preciso trabalhar duro e enfrentar muitas dificuldades nessa vida para crescer e ser alguém melhor.

Mas, por enquanto, minha realidade é esperar. Mais duas semanas. Ou talvez menos - tudo depende dela me esperar até a data da cesária ou de querer nascer antes. Tudo está pronto: o quarto tá arrumadinho. Todas as roupinhas estão lavadas, passadas e arrumadas. Do enxoval, só falta comprar uma lixeira e a garrafa de café, coisa que resolverei amanhã. Todos os lençóis, edredons, mantas e afins também já está lavado e limpo. Na mala da maternidade, só falta jogar meu kit de higiene pessoal e roupa, porque todo o resto já tá lá: as seis trocas de roupa, lembrancinhas, quadro da porta da maternidade e o enxoval da mamãe. Consegui até contratar uma pessoa pra me ajudar nos afazeres domésticos agora que o trabalho vai aumentar. Sim, está tudo pronto à espera da pequena Luísa. 

Cabeça vazia, mil medo surgem. Vou dar conta? Como ela vai ser? Vai nascer saudável? Vai ter muitas cólicas? Ou será um bebê tranquilo? Vou conseguir amamentar? Vou saber cuidar? Vou saber pegar nela? Será que vou me desesperar? Será que vou saber ser mãe? O tal instinto maternal vai surgir? E meu sono, vai ficar leve? Vou saber dar banho? Trocar fralda? Vou dar conta de cuidar de um serzinho que precisa de mim para sobreviver? 

Trinta e sete semanas.
Falta pouco e falta muito pra minha vida começar de novo. 
A expressão "esperar um bebê" nunca fez tanto sentido sentido.

#vemluísa

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Quem Raquel Sherazade representa?

Minha opinião sobre as colunas da Raquel Sherazade: vi poucas, e as poucas que vi, são rasas, fracas e cheias de clichês e lugares comuns.Em resumo, são extremamente superficiais.  Não digo que ela é burra, porque considero que existe a possibilidade de que suas opiniões são superficiais pelo fato de falar na TV - e TV demanda linguagem simples e pobre, fácil de ser compreendida por qualquer um. Eu também não a conheço, por isso, vou dar a ela o benefício da dúvida.

As poucas colunas da Raquel que li foram após reclamações na minha timeline do Facebook. Queria saber quem era a tal jornalista cujo pescoço estava sendo pedido pela esquerda burguesa paulista. Em resumo, encontrei uma animadora de debates de faculdade que se mostra extremamente conservadora nos costumes. É a cara do que no Brasil se passou a chamar de "reaça". Do que já li, ela é "reaça, energúmena, racista, nazista, facista, xenófoba, homofóbica". Logo, deveria ser proibida de falar. E ser demitida sumariamente do posto de apresentadora/colunista do Jornal do SBT.

O mundo no qual vivo hoje é um mundo permeado por pessoas que fizeram faculdade, possuem trabalho e vivem do lado de cá da marginal - ou seja, no centro limpo e sem barracos de São Paulo. Mesmo sem cruzar a ponte, o que mais vejo são pessoas dando opiniões e dizendo que representam pobres, negros da periferia, mulheres, gays e qualquer minoria que você possa imaginar. Quase todos são de classe média, vivem razoavelmente bem e tiveram acesso à educação e cultura. Acho normal e entendo perfeitamente todas as argumentações e indignações dos meus amigos. Raquel Sherazade é boçal e não representa realmente a juventude de classe média que possui educação e é politicamente correta.

Mas Raquel Sherazade representa uma grande quantidade da população brasileira. Essa população que ela representa não é a elite que compra no Shopping Cidade Jardim e JK Iguatemi, que viaja pra Miami, Paris e NY e que paga mil reais num jantar. RAQUEL SHERAZADE REPRESENTA AS CLASSES C, D e E. Representa quem mora do outro lado da marginal, nas periferias da cidade. Ela representa a população do interior do país. As senhoras que frequentam cultos evangélicos e dão dízimo em igrejas neo pentecostais achando que assim terão sua vaga no céu. Ela representa o povo de recebe bolsa família, ou que vive de salário mínimo. Raquel Sherazade faz sucesso com aquele "bando de nordestinos que elegem o PT por causa do bolsa família" - só pra usar um termo do "reaça" padrão.

Quem acha que bandido bom é bandido morto, no geral, são as pessoas com menor acesso à educação. A noção de "direitos humanos" é resultado do aumento do nível educacional. Quanto mais educado um povo/nação/estado, maior é o respeito aos direitos humanos e às minorias. Esse, obviamente, não é o caso do Brasil. Ainda estamos há anos-luz de ser um país civilizado. Temos um volume de adultos analfabetos gigantesco. Temos hordas de jovens saindo da faculdade sem dominar o português. Gente que estudou em escola ruins, com professores despreparados, fez uma faculdade péssima e mal sabe interpretar texto - e que lê a coluna do Antonio Prata e não entende a ironia óbvia do texto, só pra citar um caso recente.

A maior parte das pessoas neste país não lê livros, jornais ou revistas. Quem tem na TV sua principal fonte de informação são as pessoas das classes mais baixas. E são elas que aplaudem o fasciscmo,xenofobismo, racismo, homofobia e afins da colunista/apresentadora do SBT. Silvio Santos é tudo, menos burro. Ela não está no cargo que ocupa se esse gênio da televisão brasileira não soubesse muito bem que seu público - que é composto de tudo, menos da elite branca - se vê representando nas colunas indignadas da jornalista, mulher e nordestina Raquel Sherazade (acho importante lembrar disso, porque ela faz parte de pelo menos, duas minorias pelas quais aqueles que a abominam adoram dizer que defendem).

Enquanto a classe média consegue mil (dez, vinte, cinquenta) compartilhamentos indignados contra a Raquel Sherazade, o grosso da população aplaude o que ela fala na TV. E, não, embora não seja de esquerda, nem de longe concordo com o que já vi a tal jornalista falando. Mas é burrice achar que ela estaria opinando sobre matar bandidos, manter "Deus é fiel" nas células, contra o aborto e afins, se ela não tivesse uma audiência gigantesca que a aplaude e pensa exatamente como ela.

A maior parte das pessoas que lerem esse texto vão achar um absurdo. Outra pequena parte, vai discordar por achar que ela é "incrível". Mas quem sustenta o espaço que a Raquel tem no SBT não sou eu, você ou qualquer campanha de "fora sherazeda" no Facebook. O cidadão de bem tão odiado por quem odeia a Sherazade não é o homem, héreto, branco, de classe média alta que viaja para fora do pais todo ano. Quem mantém a Raquel ali, falando o que pensa, é quem é pobre. O cidadão de bem racista é quem mora na periferia, na zona rural, nas cidadezinhas pequenas e pobres dos rincões desse país.

Goste ou não, o fato é esse.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Verão, amigo, vem cá bater um papo...

Oi, verão, tudo bem com você?

Pelo visto, sim. Você está radiante, quente, brilhante, hot, né?

Que ótimo pra ti. Porque pra mim não está legal.

Eu sei que nossa relação nunca foi muito legal. Sempre achei o inverno mais atraente que você. Não tenho culpa se acho sobretudo mais sexy do que um vestido colado no corpo.

Sei também que você não tem culpa de eu ter nascido num país tropical, onde passo a maquiagem e dali dois minutos, você derrete ela.

Mas nossa relação já foi muito melhor, né?

Por exemplo, eu convivo muito bem contigo quando estou na praia. Ou dentro de uma piscina. Ou quando chove e minha cabeça não vira uma torradeira ambulante.

Também acho nossa relação perfeitamente saudável quando um ventilador e um banho gelado resolvem essa sudorese chata que você provoca em mim e no resto a humanidade.

Sim, é chato. É desagradável se sentir com uma cachoeira com odor desagradável, entende? Sendo eu, ou sendo outras pessoas, essa sensação que você provoca em nós não é legal. Mas dentro de certos limites, ok.

O problema, verão, é que você tá meio que passando dos limites, né? E aquela chuvinha marota que você mandava todos os anos? Não precisa alagar a cidade, mas ela podia dar as caras, né? Ia fazer tão bem, viu?

E também sinto saudades quando você, apesar de todo esse calor, me deixava dormir. Poxa, custa colaborar?

Amigo verão, eu to grávida! De nove meses! Você sabe o que é isso? Não,  né? Então, vou te falar: é cansativo. Porque estou enorme. E você está colaborando pra me deixar mais inchada, cansada, sem conseguir pensar.

Tem uma pessoa se remexendo dentro de mim. Isso me faz ficar mais cansada e transpirar mais. E logo agora, você inventa de vir com toda a força do universo? Tu tá de sacanagem comigo, né?

Querido, eu preciso trabalhar! Dá pra ajudar ai? Pega leve! To quase te achando elitista. Porque de tanto calor, só os ricos escapam. O que você tem contra pobres sem ar condicionado e dinheiro pra ir pra praia e mulheres grávidas? Pode falar? Porque você só pode ter preconceito contra a gente!

Verão, é o seguinte: nunca te amei, mas sempre te aturei. Mas se você continuar desse jeito, vou ter que cortar relações contigo, tá ligado?

Então, pega leve ai e dá um refresco.

Grata,

Núbia Tavares

ps. essa foto ai embaixo sou eu e meu humor em relação à você, só que ao contrário.




sábado, 1 de fevereiro de 2014

E os gatos?

Desde que comecei a contar para as pessoas que eu estava grávida, escuto apergunta:

- Mas, e os gatos?

Confesso que essa pergunta não fez o menor sentido na primeira vez que ouvi. Nem na segunda, nem na terceira. E jamais fará. Não sei em que momento do mundo isso aconteceu, mas aparentemente, é consenso de que se você está grávida, não pode ter um gato. O que basicamente mostra que vivemos no século XIX ainda, dado o tamanho preconceito em torno do bichano e de como ele pode ser prejudicial a uma grávida.

Gatos não atrapalham a gravidez. Ah, sim a toxoplasmose. Claro! Obviamente, as pessoas ignoram que apenas 1% dos gatos são infectados pelo vírus. Que pra pegá-lo, é preciso ingerir fezes. Você conhece alguém que come cocô de gato? Eu não. E, considerando que meus gatos nasceram e cresceram dentro de um apartamento (só descobriram que passarinhos existem há um ano, quando nos mudamos pra casa), cai ainda mais a possibilidade deles terem tido contato com o vírus que causa toxoplasmose na vida.

Quando falei pra minha médica que eu tinha gatos desde criança, ela tinha certeza que eu já teria imunidade contra a toxoplasmose. Pra surpresa dela, eu não tinha. Repeti o exame mais duas vezes ao longo da gestação e todos deram negativo.Ela ficava implorando pra eu não deixar os gatos não subirem em cima das coisas (como se fosse possível  ahahahahah). Até chegou a me perguntar se eu não tinha onde deixar os gatos temporariamente.

Nesse meio tempo, fui levar o Riquinho na nova veterinárias dele, aqui perto de casa, por conta de uma dermatite fúngica que ele pegou em setembro. A veterinária estava grávida de nove meses. Como mãe de primeira viagem, comecei a fazer várias perguntas de curiosa. E resolvi perguntar sobre a bendida da toxoplasmose. A Dra. Ana Paula me contou que era a segunda gestação dela. O pai dela também é veterinário e ela convive com gatos desde criança. Além de ser veterinária há treze anos. E, advinha? Ela também não tem imunidade contra toxoplasmose. Porque convivendo com bichanos diariamente, nunca pegou a doença.

Contei pra minha médica e foi o que eu precisava pra ela parar de me perguntar sobre os gatos. Ficou até surpresa em saber que alguém que convivia tanto com gatos não tinha tido até hoje a bendita da toxoplasmose. Na prática, a única coisa que parei de fazer em relação aos gatos na gravidez foi deixar de limpar a caixa de areia. Só isso.

Depois disso, passei a fazer questão de explicar pra todo mundo sobre "os gatos" quando me perguntam. Até porque, o que as pessoas esperavam que eu fizesse? Jogasse os gatos na rua? Crio os dois desde bebê. São meus filhotes de quatro patas. A única coisa que acontece quando você tem gatos e fica grávida é continuar a ter os gatos, oras.

Passada a fase da toxoplasmose, agora me perguntam: E os gatos? O que você vai fazer quando a Luísa nascer?

Novamente, não vou jogar os gatos na rua. Introduzir uma criança na vida de gatos não é simples, mas também não é nada de outro mundo. É uma questão de adaptação que, dadas as devidas proporções, é semelhante a adaptação do irmão mais velho ao novo irmãozinho.

Ludwig morreu de ciúme quando adotei o Riquinho. Aliás, as brigas entre os dois só cessaram quando castrei ambos. Quando os gêmeos lindos vieram passar férias aqui em casa com o papai Sérgio e a tia Núbia, Ludwig ficou três dias num ciúme sem tamanho. Fazia fuzzzz pros dois e chegou a dar uma patada no Lipe. Ao final de 15 dias, ele ficava se esfregando na Lygia. Acostumou-se. Percebeu que as crianças não representavam perigo e que continuávamos a dar atenção pra ele. O Riquinho virou um boneco das crianças, que pegavam ele no colo e corriam com ele pra lá e pra cá. A Lyginha, que é alérgica à pelo, só ficou com o olho irritado no primeiro dia. Depois, não teve nem sinal de rinite por conta dos gatos. Tudo, uma questão de adaptação e paciência. Por que seria diferente com a Luísa?

Os gatos vão se adaptar a ela, oras. Por medida de segurança, colocamos gradinha no quarto dela, da mesma maneira que já temos no nosso (eles não dorme com a gente e não vão dormir com ela). Mas, durante o dia, com a minha supervisão ou do Sérgio, os gatos vão conviver com a Luísa. E vice-versa.

Faz bem para crianças conviverem com bichos. Ajuda a fortalecer a imunidade, diminui o risco de alergias e ensina, desde pequena, as crianças a terem responsabilidade. Ou seja: quando a Luísa nascer, os gatos vão continuar como parte dessa família, como são desde a época em que a família era apenas eu e o Ludwig.

ps. pra quem quiser entender melhor essa relação de gatos, toxoplasmose e gravidez, também indico o post da Paula, do Paulatinamente sobre o tema. Vale a leitura!