sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Artigo - Tipinhos esquisitos

Por Fábio Barros*

Final de ano é época de festas, descontração e homenagens. Como ferrenho defensor das tradições natalinas, achei que seria legal se este último artigo do ano homenageasse algumas pessoas que tornam nosso dia-a-dia tão mais animado e feliz: os supimpas clientes das assessorias de imprensa.

A homenagem, no entanto, não vai para os clientes medianos. Uma ocasião especial como esta merece que falemos de pessoas especiais, que moram nos corações de cada um dos assessores de imprensa deste País: os tipinhos esquisitos que povoam os departamentos de comunicação, os departamentos de marketing, as diretorias, as vice-presidências e as presidências das empresas deste Brasil varonil.

Alguns deles podem ser de difícil identificação, por isso sua classificação vai acompanhada de uma frase que o caracterize bem e, para ninguém dizer que não ouço os dois lados, alguns comentários que bem poderiam ser feitos por seus fiéis assessores de imprensa.

Clássico
“A entrevista foi boa, mas eu quero aprovar a matéria antes de o jornalista publicar”.
Não quer não. Não quer porque entrevista você dá, não empresta. Não quer porque isso não existe. Não quer porque você não é editor. Não quer porque você não é o dono do jornal (e muitos deles não lêem as matérias antes de publicadas). Não quer porque matéria não é anúncio que precisa de aprovação e não quer porque você deveria ter o mínimo de informações necessárias para ter segurança sobre as coisas que diz quando dá entrevistas.

Tio Patinhas
“Quanto custa para publicar este release na Veja?”
Olha, no seu caso vai custar uns bons muitos anos de aprendizado, mas para facilitar, toma aqui o e-mail e o telefone do editor-chefe. Liga lá e fala direto com ele.

Obediente
“Eu mesmo não vejo utilidade em assessoria de imprensa. Só tenho uma porque a matriz exige”.
Você deveria obedecê-los também quando eles exigem que a empresa apareça em pelo menos 10 matérias por mês e se dispor a dar entrevistas, ao invés de ficar aí reclamando. Depois descobre que seu cargo está balançando e vai exigir dar entrevista pra Deus e o mundo só para descolar outro emprego.

Vendedor
“Olha, nunca fiz uma venda que tivesse sido gerada por matéria em jornal”.
Se é assim, você devia deixar de jogar dinheiro fora. Dispensa a assessoria, que não tem mesmo a função de vender produto, e contrata logo um ou dois vendedores.

Chique
“É duro esse negócio de ficar pagando almoço para jornalista que almoça mortadela todo dia”.
Tem razão. Imagina então para o jornalista, que tem de passar horas ouvindo você e seus gerentes falando de assuntos absolutamente sem interesse, só por causa do almoço.

Samaritano
“Acho que vocês fecharam contrato comigo só por interesse comercial”
É verdade. Vamos fazer assim então: eu fecho minha assessoria e fundo uma ONG para prestação de serviços assistencialistas de imprensa, desde que você também passe a atender os seus clientes sem qualquer interesse comercial.

Comunitário
“Não gostei do resultado desta ação. Nenhum amigo meu viu a matéria”.
Ah, mas você tinha que ter explicados os objetivos antes. Da próxima vez distribuímos o release usando as vendedoras da Avon que atendem o seu bairro.

Familiar
“Você consegue umas 20 dessas para eu levar para casa?”
Consigo sim, fácil, fácil. Algumas editoras, inclusive, estão criando um serviço gratuito de distribuição de exemplares somente para as fontes fotografadas pela revista. Se você preferir, me passa o mailing da sua família e eles entregam nas casas deles.

Invejoso
“Por que a matéria tem foto do concorrente e não tem nenhuma minha?”
Apesar de todas as key messages definidas para sua empresa terem sido citadas na matéria, e de forma positiva, esta falha imperdoável do jornalista acabou com todo nosso esforço. Só me ocorre um motivo: estética. Já lhe ocorreu que, no processo de evolução natural da espécie humana, os progenitores de seu concorrente podem tê-lo agraciado com genes melhores que os seus?

Amigo do rei
“Vou ligar pro dono da rádio e dizer para ele mandar o repórter vir aqui me entrevistar”.
Melhor que isso. Compra a rádio de uma vez e fala nela o dia todo, assim não tem chance de erro.

Precavido
“Por que eu não fui avisado de que esta matéria seria publicada hoje?”
Porque você não trabalha no jornal. Porque o editor não fornece a agenda de publicações dele para as assessorias. Porque eu sou assessor e não secretário de redação da publicação. Porque você recebe periodicamente um relatório onde, além desta, estão todas as outras matérias sobre sua empresa e ele serve exatamente para que você possa vê-las todas de uma vez, sem ter de me ligar todos os dias.

Milagreiro
“Agora que temos uma assessoria, quando começamos a aparecer na imprensa”.
Olha, como eu sou jornalista e não o Espírito Santo, vai ser difícil fazer surgirem do nada matérias sobre sua empresa. As chances de você aparecer aumentam razoavelmente à medida que você me forneça informações consistentes sobre seu negócio e seu mercado.

Exclusivo
“Por que o jornalista não quis fazer a entrevista pessoalmente?”
Provavelmente porque ele tem 47 entrevistas para fazer as 15 matérias que ele tem que entregar ainda hoje. Mas isso não justifica, né? Deve ser má vontade mesmo.

Inseguro
“Será que ele entendeu direitinho tudo o que eu disse?”
Você entendeu e eu entendi, agora, o jornalista, não sei não. Sabe, o veículo para o qual ele trabalha tem o péssimo hábito de contratar pessoas com déficit de atenção e dislexia. Raramente eles entendem as entrevistas que fazem. Aliás, nem sei como conseguem publicar uma edição depois da outra.

Momentâneo
“A imprensa está informada do momento maravilhoso pelo qual minha empresa está passando?”
Que está, está. O que está difícil de informar para eles é que você não aceita o ‘pouco’ espaço que tem recebido porque não percebe que o mundo vai além de sua empresa e que todos os dias acontecem coisas que, embora você não ache, merecem muito mais destaque e análises do que o maravilhoso momento de sua companhia.

Grato
“Vou ligar para o jornalista para agradecer a matéria”.
Não faça isso, ele vai acabar achando que fez alguma coisa errada.Estes são alguns dos tipinhos esquisitos dos quais me lembrei (sim, são todos reais). Quem se lembrar de outros (sim, há muitos mais), inclua nos comentários e aumente nossa galeria.

Comentário do Blog:
Não sei que é o Fábio Barros autor dessa pérola, mas eu assino embaixo sem tirar nem por!!!!

2 comentários:

Ana Paula disse...

Oi Nubia!! Adorei todos os itens. MAs o item "Clássico" é hiper frequente, né? BJSSSS

A balzaca disse...

esse é o nosso amigo fabio !!! que saudadesssssssssssss !!!