sábado, 7 de dezembro de 2013

Meus erros, meus acertos

Faço parte da geração "não foi minha culpa". A culpa dos erros é sempre dos outros. O mérito pelos acertos é sempre nosso - mas você deve dizer isso com humildade, pois não pode parecer uma pessoa arrogante. Tanto que o padrão é dizer o contrário do que você realmente pensa para que as pessoas possam massagear seu ego e te fazer sentir especial.

E se algo deu errado, coloque a culpa no chefe, no amigo, no pai, na mãe, no trânsito, no capitalismo, na vida estressante das cidades grandes, no fascismo, no racismo, na sociedade injusta e desigual, na colega de trabalho que é burra e usa decotão para se dar bem e por ai vai.

Não vejo ninguém admitindo culpa por ai. E vejo muita gente querendo bater no peito e dizer "fiz algo do caralho" dizendo que "não fez nada demais" exatamente para que todos os outros digam por ele que ele fez algo do caralho.

Essa postura faz com que pessoas da minha geração se sintam frustradas por não ter seu grande mérito reconhecido, por não estarem ricas antes dos 30 anos e por não terem mais de 50 likes na foto do Instagram. Tudo é motivo para a pessoa reclamar da vida, do universo e de tudo mais, porque é CLARO que a culpa é de algo obscuro, nunca de si mesmo.

Eu já fui muito assim também, confesso. Faz parte de ser jovem. Não sei exatamente em qual momento da minha vida ocorreu, mas hoje, tento ao máximo analisar primeiro qual é meu papel dentro do que acontece na minha vida. Isso vale para meus erros e meus acertos. Se algo dá errado, a primeira coisa que penso é: onde errei?

E não, isso não me faz uma pessoa depressiva. Muito pelo contrário. Como li esses dias, "o que é bom na sua vida, é ótimo. E o que é ruim, te fortalece". Frase total de autoajuda, eu sei. Mas é uma grande verdade. Há alguns anos, uso as coisas ruins, chatas e desagradáveis para tentar ser alguém melhor. Pra me motivar. Lembro como já fui chamada de gorda, burra, jeca do mato e limitada. Usei tudo isso para aprender mais, ficar mais magra e expandir meu intelecto. Bullying? Chamo isso de motivação.

Não é uma questão de se sentir culpada por não ser do jeito A ou B. É uma questão de tentar entender qual é o fundo de verdade em uma crítica que tanto pode vir de uma pessoa que te ama, quanto de alguém que é escroto pra cacete. Sim, existem pessoas escrotas que falam coisas verdadeiras de maneiras escrotas e que, se você analisar bem, pode te mostrar uma oportunidade de mudar pra melhor.

Vale o mesmo para acertos. Se fiz algo que achei incrível e fiquei orgulhosa de mim mesma, por que falsa modéstia? Ah, lembrei de um clichê: sim, a diferença entre a autoconfiança e a arrogância é quase imperceptível. Eu tento me policiar para não ser arrogante - às vezes eu sou, normalmente com gente que é escrota comigo. Mas não tenho a ambição de ser perfeita. E se achar que passei do limite, não tenho o menor problema em pedir desculpas. Pra quem quer que seja.

Diferente de grande parte da minha geração, eu realmente acredito que se tem alguém responsável por tudo que acontece na minha vida, essa pessoa sou eu. Momentos ruins são resultados de escolhas ruins. Momentos bons são resultados de escolhas bem feitas.Não tem essa de "a culpa é de fulano". E, antes que alguém fale alguma coisa, sim, eu já tive chefe incompetente mandando em mim. Paciência - nunca fui boa de puxar saco. Se me irrito com esse tipo de situação? É claro que sim. Só que em lugar de ficar aturando o chefe burro e reclamando do trabalho, sempre tentei lidar com a situação da maneira mais positiva possível, até que eu fosse capaz de mudá-la.

O mundo não é perfeito. É injusto e foi feito para o mais fortes mesmo. Só que mais forte não é, necessariamente, ter mais dinheiro. E sim, estar preparado da melhor maneira possível para enfrentar ad adversidades. Como nasci no interior, de uma família pobre e sem muitas perspectivas de vida além de virar vendedora ou caixa de supermercado, eu tinha dois caminhos: reclamar de como o mundo é injusto e como os fortes me oprimiam, ou simplesmente ignorar tudo isso, dar a cara pra bater e ver no que dava.

Escolhi a segunda opção e acho que foi um grande acerto. Sei que nem todas as pessoas tem uma personalidade como a minha - que apanha, mas usa o tapa e a marca pra criar forças e levantar atropelando tudo o que vier pela frente. E não quero minha experiência e minha maneira de encarar a vida como exemplo pra ninguém. Até porque não sou.

Como todo ser humano, não vou ficar propagandeando por ai meus fracassos, minhas falhas e meus erros - não ganho absolutamente nada com isso. Mas sei de todos e poderia listá-los um a um com a maior tranquilidade do mundo. Uma coisa que ainda quero é pedir perdão e admitir erros para todo mundo que magoei nessa vida. Não sei se terei a oportunidade um dia, mas eu torço pra que a vida me dê essa oportunidade.

Não sei se todas as pessoas do mundo são capazes de enxergar isso, mas minha vida mudou depois que aprendi a pedir desculpas. A refletir, mesmo contrariada, sobre o meu papel nos meus fracassos. E a ter orgulho do que faço de certo.Meus erros e meus acertos são os responsáveis pelo o que fui, sou e serei. Ninguém além de mim mesma tem mérito pelas lágrimas que derramo ou pelos sorrisos que distribuo.

Espero, sinceramente, conseguir educar minha filha para que ela seja alguém que compreenda que a responsabilidade sobre nossa vida e destino está em nós, e não nos outros.




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