sexta-feira, 7 de março de 2014

Culpa de mãe

Nem completei duas semanas como mãe e já saquei que o maior problema da maternidade moderna não é trocar fraldas, passar a noite em claro ou ver seu pimpolho(a) doente. Nosso grande problema se chama "culpa". Em resumo, a culpa mór de quase todas as mulheres é não conseguir ser como as mães de antigamente, que não precisavam trabalhar fora. Com tantas cobranças - ser ótima profissional, linda mulher e mãe perfeita - morremos de culpa por não podermos dar conta de tudo da maneira que gostaríamos. Até ai, tudo normal. O problema é que, talvez por não termos consciência da culpa maior, entramos na pilha do roteiro para ser uma mãe perfeita e, naquilo que escapamos do script, o mundo desaba e passamos a nos considerar as piores mães do mundo.

Vou usar meu exemplo pessoal. Pelo manual da mãe politicamente correta dos grupos de Facebook, eu me deveria culpar por:

1. Não ter feito uma dieta saudável na gravidez e ter comido chocolate e tomado refrigerante
2. Ter feito uma cesária, e não um parto normal humanizado sem anestesia
3. Não ter feito yoga ou pilates durante a gravidez
4. Não ter achado incrível ficar inchada e gigante no último trimestre da gravidez
5. Ter comprado chupeta e mamadeira pra minha filha - e ter dado chupeta pra ela com uma semana de vida
6. Não achar nada idílico a dor da Luísa mordendo meu seio
7. Ter zero encanação caso não seja possível amamentar apenas com leite materno até os 6 meses e seja necessário dar leite artificial

Coloquei "deveria me culpar" porque eu realmente não me culpo por nenhuma das decisões que eu tomei ou que eu venha a tomar na criação da Luísa. Leio muito, devoro o tema e faço o que acho melhor para a Luísa dentro do estilo de vida que eu considero melhor pra mim. E, no meu caso, xiitismo de qualquer lado não é  minha praia. Da mesma maneira que não vou deixar de amamentar minha filha porque o peito cai, também não vou ficar insistindo na amamentação se isso se tornar uma tortura - sim, porque tem mãe que sente tanta dor que chora só de pensar que daqui a pouco o filho vai acordar e vai querer mamar. Mas a verdade é que nem toda mãe está preparada para a avalanche de cobranças que são feitas a partir do momento em que você engravida por todos - família, amigos e grupos de mães do Facebook.

O que mais leio na internet são mulheres se sentido menos mãe, incompetentes, incapazes, sofrendo porque, na prática, um parto normal dói pra cacete e ver seu filho chorando de fome porque seu leite não é suficiente não é nada legal. E como a mulher se cobra que ela deveria achar lindo tudo isso, sofre de um milhão de culpas por não conseguir ser a mãe perfeita. Mas o que mais me choca nisso tudo é que 80% dessa culpa é externa. A mulher se sente culpada porque é cobrada por todos a ter uma postura X ou Y. E é incrível como TODO MUNDO acha que sabe o que é melhor pra sua gravidez e bebê do que você mesma. Todo mundo aponta, reclama, acha defeito e te convence de que você não está fazendo as coisas como deveria. E como é o seu début na maternidade, você acaba acreditando que os outros estão certas e você, errada. E, logo, você não está sendo mãe o suficiente. E dai, a chuva de culpa.

Quando eu vejo mulheres sofrendo e se achando piores porque tiveram que dar complemento para o filho aos 4 meses e no grupo de amamentação que ela participa no Facebook dizem que ela tá errada, eu gostaria de pegar a pessoa pela mãe e falar: amiga, senta e sinta a naturalidade com a qual minha mãe me conta que deu mamadeira pra mim na maternidade. Agora, olha pra mim e escuta: considero a minha mãe a melhor do mundo. Invejo nossas mães que, mesmo cuidando de nós de maneira que hoje, são consideradas erradas, faziam isso sem culpa e sem cobrança. Há 20, 30, 40 anos, ninguém achava que você era menos mãe por dar mamadeira, chupeta ou sopinha para o seu filho. Por que, então, adoramos apontar o dedo para os outros e dizer que fulana é preguiçosa, menos mãe ou sei la mais o que por não cuidar do seu filho de maneira A, B ou C?

Não que eu ache que as coisas não mudam. Muito pelo contrário: considero lindo o tanto que a ciência evoluiu e como fomos aprendendo como cuidar cada vez melhor dos nossos bebês. Mas acho que o xiitismo com que muitas mães tratam o tema contribui para a criação de um problema que, no final das contas, não é tão determinante assim. Afinal, um dente torto de uma chupeta se pode consertar, assim como nunca vi nenhuma criança morrer porque tomou sopinha aos quatro meses de idade. Claro que se você puder dar apenas peito ate os 6 meses, é maravilhoso e incrível (inclusive, é o que pretendo fazer, se possível). Mas sou completamente contra qualquer sentimento de culpa caso o script da maternidade ideal não se concretize. Principalmente porque sabemos que entre o que idealizamos e o que vivemos, normalmente há uma grande distância. E é preciso entender que mais importante que a maneira como você vai colocar seu filho no mundo ou como vai alimentá-lo, são os valores e princípios que você ensinará para ele. É isso que te fará ser uma boa mãe.

Se você dá só peito, se dá complemento, se fez o parto assim ou assado, isso realmente não importa tanto quanto achamos que importa ou tanto quanto dizem pra gente.  Você sera mais mãe se souber dar amor, carinho, atenção e ensinar seu filho a ser uma boa pessoa, ter caráter, respeitar o próximo e ser honesto. Não precisamos de mães que encarem a maternidade como um protocolo a ser seguido para ganhar o diploma de perfeição das amigas do Facebook e que se culpam, sofrem e se martirizam por não terem alcançado aquela perfeição almejada e propagada como a ideal. Precisamos de mães que compreendam que a maneira como educamos nossos filhos é a nossa grande contribuição para a transformação da nossa sociedade - seja para melhor ou para pior. E que uma sopinha ou água antes dos seis meses, não faz tanto mal quanto formar um ser humano sem princípios e moral.


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