Era uma vez um mundo em que ter tatuagem era uma aberração.
Pessoas que ousavam marcar o próprio corpo eram discriminadas. Podiam perder
vagas de empregos. Criavam crises familiares. Tatuagem era coisa de bandido,
vagabundo. Gente decente e trabalhadora não podia marcar o corpo. Se quisesse,
tinha que fazer num canto escondido, para não sofrer preconceito. Mas o mundo
mudou. Hoje, todo mundo tem tatuagem. É legal, é cool, é incrível. Difícil ter
apenas uma, né? Tatuagem é um vício. Fez uma, tem que fazer várias. E todo
mundo ficou livre para fazer desenhos, escrever coisas, enfim, se marcar como
quiser. Tudo muito bonito e livre. O preconceito contra a tatuagem acabou. Só
que não.
Pois é. Hoje, ainda há preconceito relativo à tatuagem.
Contra quem não tem. É verdade. Sinto isso sempre que alguém toca no assunto
perto de mim. Não tenho tatuagem. Não tenho vontade de ter. Não consigo achar
bonito. Quando alguém começa a falar sobre o tema, faço a egípcia e finjo que não é comigo. Se não tiver como escapar, digo que não tenho. “Como assim você não tem? Eu tenho três,
faz, dói um pouco, mas é incrível!”. Eu sorrio amarelo e respondo “acho lindo
nos outros, mas não tenho coragem”, para não ser desagradável. É, porque,na
verdade, eu acho tatuagem horrível. E se eu falar que acho bizarro pintar qualquer coisa no meu corpo, vão me olhar torto (foi o que aconteceu todas as vezes que falei). Mas a verdade é que não gosto de tatuagem. Nunca farei nenhuma. Impossível não olhar pra uma
e imaginar aquela mesma pele daqui há 50 anos, toda enrugada e com aquela
tinta. E ai eu me imagino sendo a dona da tatuagem e ela na minha pele enrugada aos 80 anos. Me incomoda. Não rola nem pagando um milhão (eu sei que com um milhão daria pra tatuar, tirar e sobrar um dinheiro, mas daria muito trabalho).
Ressalte-se: não, eu não tenho nada contra quem faz
tatuagem. Até porque 90% das pessoas que conheço tem uma. Não pergunto para as
pessoas quando as conheço se elas têm tatuagem. Tatuagem não faz ninguém melhor
nem pior. Só que eu realmente não acho bonito. Por trabalhar com comunicação/publicidade,
uma área em que a diversidade é melhor aceita, convivo com milhares de
tatuagens diariamente. Todo mundo tem tatuagem e eu convivo muito bem com elas. Mas, aparentemente, elas não
convivem comigo. “Ah, pára, você TEM que fazer uma tatuagem”. Já ouvi isso
tantas vezes na vida que perdi as contas. Não, gente, eu não tenho que fazer
algo que acho bonito. Ah, mas é o nome da sua mãe. Do filho. Do namorado. É o
símbolo japonês da sorte. É um puta desenho lindo,super artístico. É um tribal
(mentira, tribal tá fora de moda, pelo menos foi o que ouvi). É um herói. Uma cachoeira. Uma onça. Uma
borboleta. Uma estrela. Bacana, meu povo. Só que não vai rolar.
Eu não quero ter uma tatuagem. Não me importa se vou tatuar
um lugar onde nunca verei. O simples fato de saber que ela estará lá me dá
pânico. Já tenho muitas marcas. Eu tenho uma pinta dentro da minha irís. Tá
bom, né? Já tenho uma tatuagem natural, dentro do meu olho. Não quero mais nenhum rabisco no meu corpo. Eu gosto dele do jeito que
ele é. Por isso, suplico: da mesma maneira que as pessoas comemoraram o fim do
preconceito contra quem tinha tatuagem no passado, eu gostaria de poder optar
por não ter uma sem ser olhada com uma cara de que sou um ET.
E viva à liberdade de escolhas. =)
Sim, sou eu. Não, não é uma tatuagem, é apenas um carimbo. Não, não dei like nesse like. |
3 comentários:
Tenho a mente aberta para isso. E ultimamente muitos tem me falado para fazer. Mas na boa, não rola. Sei lá, não tenho vontade. Também não critico quem faz.
Nem eu critico, mas ando meio incomodada com as críticas por não ter uma. Daí o desabafo, ahahahah!
Foda hein? Não consigo conceber essa forma de tratamento, que eu entendo que seja impositivo... Se a pessoa chega pra mim e pergunta, eu falo sobre a minha tatuagem, o que é, se doeu e tudo mais que ela pergunte. Agora, de forma ALGUMA, NUNCA fiz e nem farei uma coisa dessas... fiquei de cara. E de certa forma até decepcionada...
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