quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O outro mundo possível

Queria entender que mundo é esse onde mérito só vale se você for pobre e negro, como se inteligência e talento tivessem classe social. Eu me assusto ao ver que o mundo onde nasci, que, segundo me contam hoje, é preconceituoso, caminha para um mundo sem preconceito onde o seu papel na sociedade, seu mérito e seu talento é decidido no momento do seu nascimento. Não está entendendo nada? Pois é, mas é isso. Aos poucos, cada vez mais vejo comentários como "é fácil conseguir isso sendo rico, sendo filho de quem é". Da mesma maneira que ouço "esse ai sim, tem talento, superou todos os obstáculos e está brilhando".

Não quero generalizar, mas acredito que na ânsia de eliminarmos as barreiras sociais, estamos criando um problema sério em médio e longo prazo. Um racismo ao contrário, do tipo que leva a ministra de desigualdade racial dizer que um negro (por ser negro) tem direito de bater num branco. Não, eu não nego as injustiças raciais e o racismo camuflado do Brasil. Mas acho que, em lugar de se buscar uma verdadeira igualdade de classes/raça, estamos caminhando para um ambiente em que uma classe/raça tenta se sobrepor a outra. É, existe uma luta, e estamos camuflando essa luta com o argumento de "correção histórica". Não, um negro não tem direito de bater num branco por ele ser negro. E vice-versa. Cor de pele não justifica agressão nenhuma. Não é agindo como os brancos agiram no passado que se faz justiça social.

Eu, filha de pai mulato e mãe branca, fico olhando para toda essa briga de classes/raças sem saber o que fazer. Hoje, sou classe média. Mas já fui pobre e sei o que é isso. Não me acho mais talentosa que ninguém de outra classe social/cor por conta disso. Acho que, quem é bom, será bom tendo nascido no barraco ou no berço feito à mão por artesãs francesas. Mérito, talento e inteligência, graças a Deus, não obedecem ao mundo politicamente correto de hoje. Esses dons aparecem aleatoriamente em pessoas de todas as raças, classes e afins. Portanto, eu não aceito nenhum tipo de generalização sobre talento. Mark Zuckberg não era pobre. Nem por isso, podemos diminuir sua genialidade. Chico Buarque, idem. Ele seria mais talentoso se tivesse nascido no morro? Eu não acredito. Ele poderia ter mais dificuldades. Mas gente talentosa e boa brilha independente dos argumentos classistas e racistas disfarçados de justiça social com os quais convivemos hoje.

Eu realmente sonho com um mundo em que ser branco, negro, pobre ou rico não sejam motivos para você ser classificados em estereótipos A ou B. E que seu caráter/talento/mérito sejam julgados unicamente por aquilo que você faz, sem que suas origens possam influenciar A ou B a classificarem seu mérito maior ou menor. Sim, sei que estou pedindo muito. A humanidade tem como característica a luta, o confronto, o embate. Eu só acho que esse embate em que você cria privilégios para compensar o que aconteceu no passado só vai criar mais discriminação, raiva, ódio e problemas. E o que eu acho incrível é que ninguém parece perceber isso.

Tenho vergonha da maneira como os negros foram tratados no passado. Incluindo meu bisavô paterno, filho de escravos alforriados que teve que fugir com a minha bisa, porque ela era branca filha de portugueses. Mas acho que, mais do que olhar para o passado, é hora de olharmos para o futuro se quisermos realmente construir um mundo mais tolerante. E eu realmente não acho que é acirrando a luta de classes ou raças que vamos conseguir chegar nesse outro mundo ideal.








Um comentário:

ISA disse...

Concordo sobre a compensação histórica, que só gera mais compensações. Como as tais cotas raciais, que na minha opinião, deveriam ser apenas SOCIAIS. Porque tem pobre preto e branco e amarelo e azul.

E mérito realmente não tem cor, nem classe. Mas desculpa, tem sim, MEIOS. Obviamente, uma pessoa que nasceu rica fez os melhores cursos, viajou mais, domina trocentas línguas e tem mais oportunidades que aquele que ralou pra pagar a faculdade enquanto fazia bicos.
E aí há uma diferença entre talento/dom - com os quais vc supostamente nasce-, e técnica - pela qual vc pode aperfeiçoar esses dons e conseguir seu lugarzinho ao sol.
Dom não se compra, técnica sim. É onde as coisas se misturam e onde mora a desigualdade.