quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Quem Raquel Sherazade representa?

Minha opinião sobre as colunas da Raquel Sherazade: vi poucas, e as poucas que vi, são rasas, fracas e cheias de clichês e lugares comuns.Em resumo, são extremamente superficiais.  Não digo que ela é burra, porque considero que existe a possibilidade de que suas opiniões são superficiais pelo fato de falar na TV - e TV demanda linguagem simples e pobre, fácil de ser compreendida por qualquer um. Eu também não a conheço, por isso, vou dar a ela o benefício da dúvida.

As poucas colunas da Raquel que li foram após reclamações na minha timeline do Facebook. Queria saber quem era a tal jornalista cujo pescoço estava sendo pedido pela esquerda burguesa paulista. Em resumo, encontrei uma animadora de debates de faculdade que se mostra extremamente conservadora nos costumes. É a cara do que no Brasil se passou a chamar de "reaça". Do que já li, ela é "reaça, energúmena, racista, nazista, facista, xenófoba, homofóbica". Logo, deveria ser proibida de falar. E ser demitida sumariamente do posto de apresentadora/colunista do Jornal do SBT.

O mundo no qual vivo hoje é um mundo permeado por pessoas que fizeram faculdade, possuem trabalho e vivem do lado de cá da marginal - ou seja, no centro limpo e sem barracos de São Paulo. Mesmo sem cruzar a ponte, o que mais vejo são pessoas dando opiniões e dizendo que representam pobres, negros da periferia, mulheres, gays e qualquer minoria que você possa imaginar. Quase todos são de classe média, vivem razoavelmente bem e tiveram acesso à educação e cultura. Acho normal e entendo perfeitamente todas as argumentações e indignações dos meus amigos. Raquel Sherazade é boçal e não representa realmente a juventude de classe média que possui educação e é politicamente correta.

Mas Raquel Sherazade representa uma grande quantidade da população brasileira. Essa população que ela representa não é a elite que compra no Shopping Cidade Jardim e JK Iguatemi, que viaja pra Miami, Paris e NY e que paga mil reais num jantar. RAQUEL SHERAZADE REPRESENTA AS CLASSES C, D e E. Representa quem mora do outro lado da marginal, nas periferias da cidade. Ela representa a população do interior do país. As senhoras que frequentam cultos evangélicos e dão dízimo em igrejas neo pentecostais achando que assim terão sua vaga no céu. Ela representa o povo de recebe bolsa família, ou que vive de salário mínimo. Raquel Sherazade faz sucesso com aquele "bando de nordestinos que elegem o PT por causa do bolsa família" - só pra usar um termo do "reaça" padrão.

Quem acha que bandido bom é bandido morto, no geral, são as pessoas com menor acesso à educação. A noção de "direitos humanos" é resultado do aumento do nível educacional. Quanto mais educado um povo/nação/estado, maior é o respeito aos direitos humanos e às minorias. Esse, obviamente, não é o caso do Brasil. Ainda estamos há anos-luz de ser um país civilizado. Temos um volume de adultos analfabetos gigantesco. Temos hordas de jovens saindo da faculdade sem dominar o português. Gente que estudou em escola ruins, com professores despreparados, fez uma faculdade péssima e mal sabe interpretar texto - e que lê a coluna do Antonio Prata e não entende a ironia óbvia do texto, só pra citar um caso recente.

A maior parte das pessoas neste país não lê livros, jornais ou revistas. Quem tem na TV sua principal fonte de informação são as pessoas das classes mais baixas. E são elas que aplaudem o fasciscmo,xenofobismo, racismo, homofobia e afins da colunista/apresentadora do SBT. Silvio Santos é tudo, menos burro. Ela não está no cargo que ocupa se esse gênio da televisão brasileira não soubesse muito bem que seu público - que é composto de tudo, menos da elite branca - se vê representando nas colunas indignadas da jornalista, mulher e nordestina Raquel Sherazade (acho importante lembrar disso, porque ela faz parte de pelo menos, duas minorias pelas quais aqueles que a abominam adoram dizer que defendem).

Enquanto a classe média consegue mil (dez, vinte, cinquenta) compartilhamentos indignados contra a Raquel Sherazade, o grosso da população aplaude o que ela fala na TV. E, não, embora não seja de esquerda, nem de longe concordo com o que já vi a tal jornalista falando. Mas é burrice achar que ela estaria opinando sobre matar bandidos, manter "Deus é fiel" nas células, contra o aborto e afins, se ela não tivesse uma audiência gigantesca que a aplaude e pensa exatamente como ela.

A maior parte das pessoas que lerem esse texto vão achar um absurdo. Outra pequena parte, vai discordar por achar que ela é "incrível". Mas quem sustenta o espaço que a Raquel tem no SBT não sou eu, você ou qualquer campanha de "fora sherazeda" no Facebook. O cidadão de bem tão odiado por quem odeia a Sherazade não é o homem, héreto, branco, de classe média alta que viaja para fora do pais todo ano. Quem mantém a Raquel ali, falando o que pensa, é quem é pobre. O cidadão de bem racista é quem mora na periferia, na zona rural, nas cidadezinhas pequenas e pobres dos rincões desse país.

Goste ou não, o fato é esse.


Um comentário:

Sandra Maria disse...

Gostei muito do seu comentário Cibele. Penso exatamente dessa maneira. Infelizmente, esse é o Brasil.