segunda-feira, 2 de março de 2009

Vamos olhar para a frente

Eu nasci em 1985, ano da redemocratização do Brasil. O país saia de seu período mais sombrio e voltava a respirar os ares da liberdade política. Quando tomei consciência de que era uma pessoa, estávamos vivendo a primeira eleição direta para presidente. Era Lula contra Collor e eu me lembro de colar adesivos do Collor (ok, eu tinha 4 anos, ninguém é perfeito) na janela de casa e ter medo da barba do nosso então presidente. Lembro vagamente dos vários planos econômicos até o Real e me recordo das várias pessoas na minha cidade que perderam quase tudo quando a Zélia Cardoso congelou as poupanças. Quando Collor renunciou para não ser deposto democraticamente, eu acompanhava tudo atentamente na TV. Tinha vergonha da casa da Dinda e do rombo que a primeira-dama causou na antiga LBA.

Em 1995, quando Fernando Henrique assumiu a presidência, eu tinha dez anos e gostava do político que "acabou com a palhaçada da inflação". Aproveitei muito a paridade dólar real, indo comprar várias latinhas de batatinhas Pringles no Paraguai, canetas coloridas e chiclete gigante. Meu pai trazia porcariadas eletrônicas (inclusive, um wallkman que me deu de presente quando fiz 11 anos) e cerveja Ouro Fino. Quando veio a crise de 99, a farra de compras no Paraguai acabou. Mas minha vó, rendatária de terra que recebia a renda em sacas de soja, passou a ganhar mais, graças à alta do dólar.

Veio 2003. Lula presidente (eu não votei nele, era Serrista na época) e eu comecei a faculdade de jornalismo em Londrina. Quando Lula foi reeleito, eu me formei e não votei em ninguém. Porque já tinha conhecido as idéias libertárias e nenhum dos dois candidatos tinham como meta reduzir o tamanho do Estado e a influência deste em nossas liberdades (de expressão, política, econômica, etc). O Alckmin chegou ao ridículo de se encher de roupas de estatais e negar uma das poucas contribuições do governo FHC para o Brasil, que foram as privatizações (mesmo que tenham ocorrido muita corrupção e roubo nesse processo).

Esse ano faço 24 anos. Vivemos uma crise econômica, tenho amigos que ficaram desempregador por conta da "marolinha" e, como bem disse Bill Clinton, pra mim, o que interessa é a economia, estúpido.

Então, cada vez que abro a internet, os jornais, TV, ou qualquer outro meio de comunicação e escuto uma lamúria eterna por conta da ditatura, tenho vontade de perguntar para as viúvas do Regime Militar o que diabos minha geração tem a ver com isso. Não nego a importancia desse período da nossa história, mas acho que discussões sobre se a Globo censurou o comício das Diretas Já hoje não acrescentam em absolutamente nada nosso presente. A Folha de São Paulo acha que nossa ditadura foi branda. Uma opinião estúpida, logicamente, porque não é o número de mortes que torna uma dituradura mais ou menos dura. Se não há todas as liberdades, o regime é condenável de qualquer maneira. Mas, se essa é a opinião do jornal e vivemos numa liberdade, a Folha tem todo o direito de expressar o que quiser - mesmo que seja algo imbecil.

Só não consigo mesmo compreender porque diabos se fala tanto na ditadura ainda. Passou, acabou e, hoje, não vejo motivos para temermos uma experiência parecida, até porque nossa democracia está bastante sólida. Por isso, como representante da nova geração, gostaria de lançar meu manifesto. Não contra ou a favor da ditadura: o que eu peço é que, pelo nosso presente e futuro, vamos parar de gastar páginas e mais páginas de jornal para falar de algo que já passou e nos concentrar nos muitos problemas que temos hoje. Se a Globo censurou, ficar duas décadas discutindo isso não vai mudar absolutamente NADA! Se o Regime Militar matou, ficar falando disso não vai trazer à vida quem morreu (seja pelas mãos do estado ou dos grupos terroristas de esquerda que também mataram).

Pra mim, a única coisa que ainda é passível de discussão sobre esse período da nossa história são as indenizações milionárias que certos "cidadãos" recebem do Estado Brasileiro e são pagas com o dinheiro dos MEUS IMPOSTOS. Eu, que não tenho nada a ver com a Arena, o MDB, ou o PC do B. Eu, que não vivi naquela época e não tenho culpa de nada sou roubada pelo estado brasileiro para "indenizar" gente que sofreu abusos por parte do estado numa época em que minha mãe nem sonhava em se casar!

É por isso que eu peço: vamos parar de falar de ditadura? A imprensa brasileiro fará um favor muito maior para o brasileiro de HOJE se dedicarem seus espaços para discutir nossas arcaicas e burocráticas leis que impedem o desenvolvimento econômico e o cenários para geração de negócios do país, a alta carga tributária, a gastança sem fim dos nossos poderes, a corrupção, etc. Pra mim, muito mais importante e útil do que discutir se a ditadura era branda ou dura, é questionar porque diabos ago 27% de ICMS sobre uma conta de telefone, porque no Brasil, salário é considerado renda e porque quase 50% do valor de um automóvel são impostos. Vamos falar por que diabos as universidades públicas não cobram mensalidade de quem pode pagar. Pra onde vai o dinheiro do IPVA? Por que estabilidade no emprego público? Pra mim e pra minha geração discutir isso é muito mais útil, relevante e importante para o nosso futuro do que ficar 498 anos discutindo se a Globo censurou ou não o comício das Diretas Já.

Por isso, peço encarecidamente: senhores jornalistas da antigas e intelectuais brasileiros, quem vive de passado é museu. Vamos olhar pra frente e discutir algo efetivamente útil para o nosso país. A ditadura acabou e não vai voltar. Mas nossos problemas estão ai, para serem resolvidos. E como presente e futuro desse país, eu tenho todo o direito de pedir para os senhores, atenção para aquilo que realmente é o que vai definir o que será esse país em 50 anos. São duas décadas de discussão sobre a Ditadura. Se até agora não se chegou a um consenso, é porque isso não vai acontecer NUNCA! Tirem, então, o luto e vamos arregaçar as mangas. Temos muita coisa pra fazer e tenho certeza que todos os que morreram por desejarem viver em um país melhor gostariam que vocês fizessem exatamente isso.

2 comentários:

Everton Domingues disse...

Sabe qual o oposto da energia mais forte da humanidade, q é o amor? Vc disse ódio... não, é o medo. O medo gera tudo de ruim, inclusive o ódio. E dele se ramifica a vingança q pode se tornar uma marolinha pelos anos ou voltar como uma tsunami a qquer momento. Judeus e árabes vivem ilustrando isso para o mundo. E outros tantos navegam nesse mar revolto daquilo mal resolvido no passado. E a lei da ação e reação vai se prolongando nessa onda infindável... ou quase, eu ainda sou otimista.
Já q minhas perguntas hj estão um tanto filosóficas, mando outra: qual o sentimento MAIS necessário no coração de todos nós e na mesma intensidade MAIS difícil de ser sacramentado? O perdão... vc já experimentou esse gosto (de verdade) ai dentro da Núbia? Pois é, exercite-se mulher... e verá, no passar do anos, q nem as marolinhas vão te importunar mais...

Saulo Prado disse...

Seu texto é interessante, concordo que temos prioridades a serem discutidas, mas acredito que a ditadura é um erro, que não pode ser esquecido, pois, devemos estar sempre alertas para não repetirmos os erros do passado, mesmo quando parece ser tão distante da nossa realidade como a ditadura.

Ola estou só batendo o ponto!!!
Vim conhecer o seu cantinho, e estou adorando o que vejo; serei presença constante aqui.
O meu mundo quadrado é um lugar feito por devoção ao poeta, e a poesia, pois amar o poeta é entra em seu mundo te convido a vim conhecer o meu...
Um abraço e fique com DEUS...…