quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A real lição da dor

Tenho uma dificuldade imensa de escrever sobre o que quer que seja quando estou feliz. Pode parecer estranho, mas é isso mesmo. É a dor que me inspira, a dificuldade que me arranca palavras e as chateações que me instigam a joga para fora, em forma de palavras agrupadas, opiniões e pensamentos trancafiados dentro da minha cabeça.

E, contrariando os últimos anos, estou em uma fase de muita paz, felicidade e sorrisos sem motivo (ou melhor, com motivo sim. Mais de um, inclusive). Não que eu não tenha nenhum problema, é claro. Mas, pela primeira vez em muito tempo, no geral, está tudo espetacularmente bem (claro que dinheiro falta, sempre, mas com esse problema, eu já me acostumei).

Estou trabalhando em um lugar bacana, fazendo o que gosto. Estou com a pessoa que eu gosto e gosta de mim e estamos felizes, nos conhecendo melhor a cada dia, aproveitando cada momento mínimo e fofo da convivência mútua. Estamos nos descobrindo, rindo, conversando, conhecendo, enfim, vivendo o momento mais delicioso de um relacionamento. E, de repente, me vejo sem capacidade de escrever. Eu penso naquele sorriso, naqueles olhos brilhantes, me derreto e… nada de conseguir escrever. Eu fico presa dentro de mim mesma, vivendo sentimentos e emoções incríveis, novas, impossíveis de serem traduzidas em palavras – e não me esforço para fazer isso.

E sempre foi assim. Leio os blogs que tive desde 2003, quando criei meu primeiro “diário” no falecido Blogger Brasil, e vejo que os momentos de produção mais intensos foram exatamente aqueles no qual estava atormentada, insatisfeita, me sentindo ferida, machucada. É incrível como a dor é muito mais fácil de ser traduzida para aquilo que chamamos de linguagem escrita (ou falada) do que a paixão, o amor, a felicidade sublime.  Por que isso, meu Deus? Não deveria ser ao contrário? Não deveríamos falar mais da felicidade, do amor, da paixão, dos sorrisos motivados por uma troca de olhares do que as lágrimas derramadas por quem não nos merece?

Sinceramente, acredito que sim. Mas, olhando para mim, para quem me cerca e para o mundo, de uma maneira geral, acredito que essa particularidade não seja apenas minha.  E esse comportamento negativo é incentivado por  nós. Isso fica bem claro para mim cada vez que escuto minhas amigas dizerem que estou com uma visão “distorcida da vida” porque estou apaixonada. Será? Será que a vida é realmente horrível e tentar não enxergar as coisas dessa forma é ter uma visão distorcida dela?

Fiz todo esse nariz de cera para chegar em uma situação que aconteceu essa semana e me deixou assustada: escutar, em menos de 24h, de três amigas diferentes, que não se conhecem, que elas concluiram que vão ficar sozinhas para sempre. Fico pensando quem tem razão e quem tem a visão distorcida: eu, que acho que é possível encontrar alguém legal, ou minhas amigas que acham que nunca vão encontrar. Acredito que a maioria das pessoas que vão ler esse post dirão: é claro que elas estão certas e você errada, Núbia!

Eu entendo perfeitamente que as pessoas pensam assim. Voltando um pouco, somos treinados para acreditar na desgraça e não enxergar o lado positivo das coisas. O que lemos nos jornais? Catástrofes, roubos, mortes, coisas ruins. Um carro bate e faz-se um trânsito gigante porque todo mundo que passa perto quer ver o morto jogado no chão. Desgraça é algo que o ser humano parece ter uma relação masoquista, de amor e ódio. Dizemos que não gostamos dos fatos e sentimentos ruins, mas temos uma visão extremamente pessimista da vida, de nós, do mundo.  E eu me pergunto: até onde essa desconfiança de que tudo vai errado não colabora realmente para estragar um relacionamento? Até onde as amarguras do passado atrapalham o meu presente, o das minhas amigas, o seu?

Aprendemos que é com a dor que a gente cresce e é errando que se aprende. Mas, será que estamos aprendendo a lição correta que a dor nos quer passar? Será que a lição que os erros no traz é “veja isso e lembre-se que tudo pode dar errado” ou apenas “lembre-se desse momento, mas saiba analisar sua situação e entenda que as pessoas não são iguais”?

Eu quero acreditar que seja a segunda. Ok, é a visão de quem está vivendo um momento incrível na vida. Mas se eu tivesse me agarrado ao primeiro pensamento em lugar do segundo, eu nunca teria permitido que a pessoa incrível que mudou minha vida para muito melhor tivesse entrado na minha vida, por puro medo de que ele fosse “só mais um fdp”.

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